Sobre Banalização dos Transtornos Mentais

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Cada dia mais nos deparamos com amigos, familiares e até mesmo nós (por que não?), utilizando de diagnósticos de transtornos mentais para se referir a sentimentos e ações do cotidiano.

Quantas vezes você já ouviu "hoje eu estou depressivo"? Frases como "Nossa, isso é TOC!", são comumente ditas e ouvidas quando a pessoa tente a ser bastante organizada.
Se você costuma limpar muito, você tem TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Se você está agitado por conta de uma situação que está por vir, você tem TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada). Se você passou por uma situação difícil recente, tem TEPT (Transtorno do Estresse Pós Traumático).
Para além disso, em algumas mídias sociais, o termo "esquizofrenia" pode ser visto descrevendo políticos e comportamento de mercado financeiro. Vocês sabiam que há muito tempo esse termo é associado com "comportamentos contraditórios"? Nesse caso o mercado financeiro oscila, age diferente do esperado, é nomeado como "esquizofrênico". Como é possível transformar um transtorno em um adjetivo que nem ao menos caracteriza uma pessoa?

O que faz refletir com todo esse cenário é: o que as pessoas estão pedindo com toda esta patologização desenfreada? Por que tem sido tão necessário categorizar? Dar uma classificação de doença a sentimentos e ações do nosso dia-a-dia?

Eu penso o quanto estamos vivendo cada vez mais uma necessidade de nos sentir parte de algo ou alguma coisa. O que pode acontecer é que quando eu me encaixo em um grupo, as coisas parecem fazer sentido e eu tenho uma identidade.

Não obstante, vivenciar um transtorno mental também me concede certos ganhos que antes eu não poderia ter. Se eu sou explosiva com alguém ou ajo de uma maneira que não é considerada positiva, eu deixo de me responsabilizar pela minha atitude e culpo o meu dito adoecimento.

É natural nossa necessidade de fazer e buscar uma identidade e respostas de nossos comportamentos. Mas nesse passo vão surgindo as consequências de nos autodiagnosticar e diagnosticar os nossos de maneira leviana.

Com tudo isso, também vou percebendo o quanto surge um pré-conceito frente aquelas pessoas que realmente são diagnosticadas e vivenciam esses processos de adoecimento.

Diante disso tudo, penso o quanto é muito positivo que possamos falar sobre saúde mental, no sentido de prevenir e educar, não banalizar.

Flavia dos Santos Lima 
Psicóloga
CRP 06/129080

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