O que vai na cabeça dos adolescentes?

A Construção do Cérebro dos Adolescentes

( Cecilia Ritto e Maria Clara Vieira) - Resumo da Matéria da Revista Veja - Edição 2505 - no 47

O que vai na cabeça dos adolescentes?

Muita emoção e pouca razão. A ciência mergulhou no cérebro do adolescente e concluiu que ele é como é porque ainda não desenvolveu os mecanismos do bom-senso.


Em todas as famílias do mundo , em algum  momento pais olharão para seus filhos de 15 anos e se perguntarão onde foi parar aquela criança fofinha? Diante de si terão um ser com jeito de adulto que parece dedicar cada minuto do seu tempo a testar sua paciência.

Em geral coloca-se a conta da mudança na multiplicação dos hormônios, e os avanços das pesquisas sobre os adolescentes vem mostrando com clareza que a maior parte das ações típicas da "aborrecência" se deve ao fato de as conexões de seus neurônios ainda não estarem totalmente formadas. A maior lacuna se situa justamente no lobo frontal, onde a razão impera.

O cérebro tem cerca de 100 bilhões de neurônios, a sua massa cinzenta. No percurso até a vida adulta estes neurônios, vão se conectando e ramificando rapidamente em uma profusão de sinapses (nome cientifico do encontro de duas células). Destes encontros se desenvolvem a linguagem, a coordenação motora, as memórias, a sensibilidade. Quando chega a adolescência, os ultimo espaço a ser preenchido são os lobos parietal e frontal, no topo da cabeça, e aí é que mora o perigo:

Nos pontos mais extremos dos lobos, no cortex pré-frontal, estão os mecanismos da sensatez, antecipação das situações de risco. Isto explica o pouco juízo.

A neurocientista americana Frances Jensen é a autora do livro O Cérebro Adolescente ( Editora Intrínseca). O livro é  uma espécie de auto ajuda para pais e jovens e acaba de ser lançado no Brasil, nos EUA frequenta a lista dos mais vendidos.  Seu mérito é dissecar o comportamento juvenil à luz da neurociência em linguagem acessível aos leigos.

O amadurecimento do córtex pré-frontal, é determinante na formação da mente adulta. Com muitas conexões de neurônios ainda por fazer, os comandos de perigo no adolescente demoram a circular de uma região para outra.




O gosto por correr riscos, está impregnado no cérebro adolescente. A ciência explica: no cérebro deles a liberação de dopamina, um neurotransmissor ligado à sensação de recompensa, é maior que na mente madura. Junte a euforia intensa em uma situação arriscada à pouca capacidade de segurar os impulsos e pode estar se desenhando um acidente grave. Para piorar, o jovem provavelmente não aprenderá com seus erros, porque a área que controla essa chamada memória prospectiva também não está totalmente desenvolvida.

O mesmo circuito de pouco discernimento e atração pela recompensa imediata faz do adolescente um ser particularmente propenso ao vício de toda espécie, de drogas e bebidas a esportes radicais e-sim! videogame.

A enorme plasticidade de seu cérebro em formação faz com que se abra, se molde e responda à maioria dos estímulos.  Isso de um lado é bom: favorece tremendamente a absorção de informações.

De outro é ruim:o jovem também fica vulnerável ao que lhe fará mal. Pesquisas mostram que:

- Quanto mais o adolescente beber, menores serão seu hipocampo ( área responsável pela memória) e sua fixação de conhecimento de longo prazo quando estiver adulto.
- Quanto mais o jovem fumar o que quer que seja, mais lentas serão as sinapses e o amadurecimento dos córtices frontal e pré-frontal - o lugar da razão.

O cérebro ainda imaturo reflete em todo tipo de comportamento dos adolescentes e do descontrole de suas emoções. "Em vez de se irritarem, os pais têm de ser o córtex pré-frontal dos filhos", ensina Frances Jensen.

A lista de comportamentos esquisitos como a vontade de ser exatamente igual ao colega (culpa dos neurônios espelho) .

Mãe de dois filhos adultos, a doutora Frances Jensen tomou a decisão de mergulhar no cérebro adolescente, quando o filho mais velho, aos 15 anos, anunciou que pintaria o cabelo de vermelho. À medida que se aprofundava no tema na universidade e acompanhava o progresso dos filhos, foi consolidando a ideia de que repassar o conhecimento aos pais e aos próprios jovens poderia ajudar a melhorar as relações domésticas. "O adolescente não é um alienígena. É um incompreendido".

Ao longo do século passado, a adolescência foi sendo estudada sob o ângulo das mudanças hormonais - uma fase "difícil" de auto-afirmação à custa da paciência dos pobres pais. Só mais recentemente a neurociência entrou na equação. Um bom conselho é trilhar , com alguma ironia e muito humor, a sugestão do conservador Nelson Rodrigues dadas aos adolescentes que nos anos 1960 saíam às ruas contra a ditadura militar: "Jovens, envelheçam rapidamente"



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como é o atendimento de psicologia para crianças?

O que é Transexualidade?

Hoje é dia da Conscientização do Autismo